29 abril 2020

DE VOLTA À VELHA POLÍTICA DO “É DANDO QUE SE RECEBE”





No Brasil tornou-se uma prática comum: quando a coisa aperta para o lado do Governo, recorre-se sempre ao Centrão. O presidente Bolsonaro antes de tomar a decisão de render-se aos da política do Toma Lá Dá Cá, afirmou: “Vou encarar com naturalidade qualquer negociação de cargos na administração pública federal”. Uma prova disso é que, ultimamente, tem mantido contatos com o personagem da velha política, Roberto Jefferson (condenado no Mensalão), além de outros do bloco denominado, “Baixo Clero”, no Congresso.

O Centrão, como se sabe, desde o tempo de Sarney tem socorrido todos os presidentes da república, e não poderia ser diferente com o governo atual, apesar de o presidente, em um showmício recente, afirmar em alto e bom som o surrado e velho refrão: “Acabou a Patifaria!”.

O Posto Ypiranga (Guedes) não gostou nem um pouquinho da guinada do presidente, pela simples razão de ver nessa mudança brusca um convite à farra com o dinheiro público.

Nos últimos momentos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem recebendo afagos e, conversa vai conversa vem, quem sabe, pode se render ao óbvio contido nessa antológica frase - "Tudo Como Dantes no Quartel D'Abrantes" - lema que, desde tempos imemoriais, já vinha se tornando símbolo representativo da nascente república das bananas, principalmente, no que tange ao desejo promíscuo de fundir a esfera pública com a esfera privada. 

Numa época de tanto descaramento e de tantas transações tenebrosas, não poderia  deixar de trazer, aqui, trechos do diálogo entre Júpiter (o Grande Pai e Rei dos deuses menores de Roma), seu filho Marte (Deus da Guerra) e Apolo (Deus do Sol e da Profecia), escrito pelo grande romancista e cronista político do Rio de Janeiro, Machado de Assis. Em "Os Deuses de Casaca" ele retrata muito bem as cenas burlescas e nada republicanas de seu tempo na cidade maravilhosa.  Na verdade, as cenas do passado, sem tirar nem por, são as mesmas dos sombrios dias atuais, exibidas de forma grotesca no Olimpo de Brasília.

A seguir, alguns trechos da memorável obra Machadiana, "Os Deuses de Casaca":


― Oh! Por mim, ando na pista de um Congresso geral. Quero, como fogo e arte, mostrar que sou aquele antigo Marte – que as guerras inspirou de Aquiles e de Heitor. Mas por agora nada! É desanimador o estado desse mundo. A guerra, o meu ofício, é o último caso, antes vem o artifício. Diplomacia é o nome; a coisa é o mútuo engano. Matam-se, mas depois de um labutar insano. Discutem, gastam o tempo, cuidado e talento, O talento e o cuidado é ter astúcia e tento. […] A tolice no caso é falar claro e franco.  

― Que acontece daqui? É que nesta Babel reina em todos e em tudo uma coisa – o papel. É esta a base o meio e o fim. O grande rei é o papel. Não há outra força, outra lei. A fortuna o que é? Papel ao portador.
A honra é de papel; é de papel o amor. O valor já não é aquele ardor aceso, tem duas divisões – é de almaço ou de peso.
Enfim, por completar esta horrível Babel, a moral de papel faz guerra de papel.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 29 de abril de 2020

Nenhum comentário: