22 junho 2012

Luiz Gonzaga ― A Cara do São João Nordestino




Viva São João!  Estamos no ano do centenário do maior sanfoneiro do Brasil ― Luiz Gonzaga (1912 ― 1989), natural de Exu – Pernambuco. 

Vi na minha meninice, esse monstro sagrado da sanfona tocando em praça pública no centro de minha cidade natal – Alagoa Grande – PB, tendo  a um lado o Zequinha no triângulo e do outro lado o Catamilho no zabumba.

 Eu ali, embevecido, não via as horas passarem. Extasiava-me encostado ao lastro de um caminhão sem as grades, todo ornamentado, que servia de palco para o trio do baião varar a noite com suas belas modinhas, ainda hoje muito executadas em todo o Nordeste. Quem do meu tempo não se lembra das antológicas canções: Asa Branca (1947) Juazeiro (1948) Qui nem Jiló (1949) Paraíba Masculina (1950)?

Luiz Gonzaga, no período de 1950 à 1960, se apresentava nos comícios do interior da Paraíba, contratados por  candidatos a cargos eletivos de prefeito e deputado estadual. De sua música Paraíba Masculina, conta-se, que José Américo de Almeida, paraibano, autor do clássico nordestino “Menino de Engenho”, ficou revoltado, pois, em sua opinião achava que o Luiz estava debochando da mulher paraibana. O lançamento desse emblemático forró na famosa praça da Bandeira em Campina Grande, terminou em tragédia onde três pessoas foram mortas e dezenas foram pisoteadas e  alguns feridos  por tiros  no tumulto da campanha eleitoral de 1950 em que José Américo de Almeida, era candidato a governador da Paraíba. A música foi lançada como jingle do candidato a senador, pela Paraíba, José Pereira  que foi derrotado pelo senador, também paraibano, Rui Carneiro. Nesse tempo os dois maiores partidos eram o PSD e a UDN.

Mas Luiz, junto a seus comparsas, logo saíu em defesa do baião “Paraíba Masculina”, alegando que ele evocava a bravura da Paraíba nos eventos políticos da Revolução de 1930, nos quais se destacaram os paraibanos, ao lado dos mineiros e gaúchos.

Lá em casa, éramos todos pessedistas (Partido Social Democrático), e eu vibrava em passeatas, carregando bandeiras de cor azul celeste, contra os que portavam as bandeiras vermelhas diabólicas dos udenistas (União Democrática Nacional). No fundo tudo era a mesma coisa, pois, os coronéis de um lado e de outro dominavam com afinco os seus currais eleitorais.

Mas deixemos os entreveros políticos de lado, para ouvir esse belo baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, feito em homenagem à Paraíba (gravado também na voz de Gilberto Gil e Marisa Monte) que, ainda hoje, é muito executado nas noites juninas em quase todas as residências de minha cidade natal:



Imagem: Jornal Integração Brasil

2 comentários:

Eduardo Medeiros disse...

Bem lembrado, Levi, salve o Rei do baião!!

Não sabia desse tumulto por causa da paraiba masculina, mulher macho sim senhor...

Minha mão contava de uma vez que Gonzaga foi fazer um show em Natal e fez questão de ir conhecer meu avô, famoso maestro na cidade à época.

Gonzaga até teria tentado tocar algumas das valsas do meu avô na sanfona mas não foi muito bem sucedido...rsss

guiomar barba disse...

Levi, não tenho palavras para agradecer seu comentário no Mar e Poesias. Você explicou o que uma pessoa que não tem a poesia na alma, não poderia entender.


Dois dias após o enterro da mami, um dos meus sobrinhos nos levou para um passeio no Recife Antigo. Visitamos museus e vários outros lugares. Em um deles, não estou lembrada qual, estava a foto enorme do Gonzaga bem jovem com a sua sanfona. Não deixei de dar meu gritinho de alegria, apesar da partida da Asa Branca.

Ele foi o poeta que cantou a beleza do Sertão. Parabéns pelo texto.