Viva São João! Estamos
no ano do centenário do maior sanfoneiro do Brasil ― Luiz Gonzaga (1912 ― 1989),
natural de Exu – Pernambuco.
Vi
na minha meninice, esse monstro sagrado da sanfona tocando em praça pública no
centro de minha cidade natal – Alagoa Grande – PB, tendo a um lado o Zequinha no triângulo e do outro lado o Catamilho no zabumba.
Eu ali, embevecido, não via as horas passarem.
Extasiava-me encostado ao lastro de um caminhão sem as grades, todo ornamentado,
que servia de palco para o trio do baião varar a noite com suas belas modinhas,
ainda hoje muito executadas em todo o Nordeste. Quem do meu tempo não se lembra
das antológicas canções: Asa Branca (1947) Juazeiro (1948) Qui
nem Jiló (1949) Paraíba
Masculina (1950)?
Luiz
Gonzaga, no período de 1950 à 1960, se apresentava nos
comícios do interior da Paraíba, contratados por candidatos a cargos eletivos de prefeito e
deputado estadual. De sua música Paraíba
Masculina, conta-se, que José Américo de Almeida, paraibano,
autor do clássico nordestino “Menino de
Engenho”, ficou revoltado, pois, em
sua opinião achava que o Luiz estava debochando da mulher paraibana. O
lançamento desse emblemático forró na famosa praça da Bandeira em Campina
Grande, terminou em tragédia onde três pessoas foram mortas e dezenas foram
pisoteadas e alguns feridos por tiros no tumulto da campanha eleitoral de 1950 em
que José
Américo de Almeida, era candidato a governador da Paraíba. A música foi
lançada como jingle do candidato a
senador, pela Paraíba, José Pereira que foi derrotado pelo senador, também
paraibano, Rui Carneiro. Nesse tempo os dois maiores partidos eram o PSD e a UDN.
Mas Luiz, junto a seus comparsas, logo saíu em defesa do baião “Paraíba Masculina”, alegando que ele evocava a bravura da Paraíba
nos eventos políticos da Revolução de 1930, nos quais se destacaram os
paraibanos, ao lado dos mineiros e gaúchos.
Lá
em casa, éramos todos pessedistas (Partido
Social Democrático), e eu vibrava em passeatas, carregando bandeiras de cor
azul celeste, contra os que portavam as bandeiras vermelhas diabólicas dos udenistas (União
Democrática Nacional). No fundo tudo era a mesma coisa, pois, os coronéis de um
lado e de outro dominavam com afinco os seus currais eleitorais.
Mas
deixemos os entreveros políticos de lado, para ouvir esse belo baião de Luiz
Gonzaga e Humberto Teixeira, feito em homenagem à Paraíba (gravado também na voz de Gilberto
Gil e Marisa Monte) que, ainda hoje, é muito executado nas noites juninas em quase todas as residências de minha cidade natal:
2 comentários:
Bem lembrado, Levi, salve o Rei do baião!!
Não sabia desse tumulto por causa da paraiba masculina, mulher macho sim senhor...
Minha mão contava de uma vez que Gonzaga foi fazer um show em Natal e fez questão de ir conhecer meu avô, famoso maestro na cidade à época.
Gonzaga até teria tentado tocar algumas das valsas do meu avô na sanfona mas não foi muito bem sucedido...rsss
Levi, não tenho palavras para agradecer seu comentário no Mar e Poesias. Você explicou o que uma pessoa que não tem a poesia na alma, não poderia entender.
Dois dias após o enterro da mami, um dos meus sobrinhos nos levou para um passeio no Recife Antigo. Visitamos museus e vários outros lugares. Em um deles, não estou lembrada qual, estava a foto enorme do Gonzaga bem jovem com a sua sanfona. Não deixei de dar meu gritinho de alegria, apesar da partida da Asa Branca.
Ele foi o poeta que cantou a beleza do Sertão. Parabéns pelo texto.
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