O Indivíduo é marcado pela finitude, pelo
imprevisível. Ele não tem qualquer
garantia absoluta de segurança. O vazio assombroso ou abismal está de forma
permanente sob os seus pés.
Freud partiu do desamparo da angústia de
morte, para formular suas teorias. É na posição masoquista que o indivíduo se
agarra ou se cola a um outro, oferecendo a este em contrapartida, seu corpo
como objeto de gozo, para assim evitar a tragicidade da experiência do
desamparo e da solidão.
O
psicanalista Joel Birman, faz ver que o que caracteriza a subjetividade do masoquista
não é o desejo primário de ser humilhado ou de sentir dor. Estes são desejos ou
derivações secundárias. Por trás desse desejo está a impossibilidade de
suportar o desamparo. Todo masoquismo, advém de uma reação em que o indivíduo
procura inconscientemente suprir seu desamparo.
Diz
Joel
Birman: “Enfim, no masoquismo o
sujeito busca o senhor e o mestre para se colar e se fundir com o intuito de evitar
a dor do desamparo, mesmo que para isso se transforme em servo do outro. Mas no
masoquismo, o querer se fundir com a outra pessoa poderosa, faz com que o sujeito não suporte a
diferença do outro.”
Baumann chegou a citar em uma de
suas obras: “O homem civilizado trocou o quinhão das suas possibilidades de
felicidade por um quinhão de segurança”.
Parece
haver um pacto (inconsciente) masoquista na pós-modernidade . Todos nós,
sujeitos, nos submetemos à posição masoquista subjetiva em nome da proteção
contra o desamparo. Submetemo-nos aos outros na busca incessante pela
segurança. E isso é o que causa um mal estar na civilização. Em nome de uma
suposta proteção servil terminamos por permitir que se legitime a destrutividade
sádica e ilimitada da pós-modernidade.
“O masoquismo faz do
indivíduo participante da massa, um escravo.
“As situações de pânico mostram que a essência da multidão se vincula ao
masoquismo, pois o pânico nada mais é que a conseqüência do desmoronamento
da crença no poder do amor atribuído ao líder”. (Renato Mezan)
No
“Mal Estar na Cultura”, Freud
fala de um superego coletivo que tem a função de reprimir a
agressividade que ameaça destruir a vida social, desde que todos se agreguem em
rebanhos — uma espécie de masoquismo moral:
“...a diferença existente entre uma extensão inconsciente da
moralidade e o masoquismo moral. Na primeira, o acento recai sobre o sadismo
intensificado do superego a que o ego se submete; na última incide no próprio
masoquismo do ego que busca proteção, quer do superego, quer
dos poderes parentais externos.” [Freud, 1924/1980, p. 210]
“Uma das mensagens do masoquismo é que
se deve sofrer acompanhado, em vez de ficar sozinho. O inimigo não é o
sofrimento, mas a falta de
conexão ...”
[Anita
Phillips — A Defesa do
Masoquismo — 1998]
Por Levi B.
Santos
Guarabira,
10 de junho de 2012
Imagem: priscillaluccas1.blogspot.com
6 comentários:
LEVI
Também tive o privilegio de ler “o mal estar na civilização” de Freud, e, em síntese é isto mesmo que ele fala, que o individuo sacrifica-se pelo bem estar da civilização.
Ele fala que fomos “programados” a buscar a tão sonhada felicidade pelo principio do prazer, e que o sofrimento nos ameaça de três formas; a partir do nosso próprio corpo em decadência, pelo mundo externo, e finalmente, através do relacionamento com o outro, sendo este último a principal fonte de mal estar. Mas em contrapartida, precisamos do outro, e, é este “precisar” que acaba nos “matando” não é mesmo LEVI???
Por falar em Freud, lhe respondi tanto na CPFG como no meu blog...aguardo sua décima tréplica. Rrsrssrs
Outra coisa...gostaria muito que você postasse mais textos sobre as teorias de Freud, porque esta é uma maneira que encontro de fugir dos meus estudos da faculdade para se “voltar” para eles novamente. Rrsrsrs
Mais uma coisa LEVI: poste também textos sobre as teorias de JUNG, pois comecei a estudar agora sobre ele, e, estou precisando entender mais afundo suas teorias.
Depois eu volto para ver suas respostas ok?
MÁRCIO
Já fiz a décima tréplica lá na C.P.F.G. (rsrs)
Sobre Jung, depois eu volto (à la Hubner).
No fundo, Freud e Jung podem ser comparados aos personagens bíblicos: O Criador e a Criatura. Ambos têm lá suas razões.
Deus perdeu o homem (a criatura), mas depois, na figura do Filho, foi buscá-lo.(rsrs)
Eu bebo das duas fontes. Mas só uso uma fonte de cada vez. As duas juntas podem dar congestão.
LEVI
Interessante..quer dizer então que não dá para conciliar as duas teorias, mas no entanto, dá para usar uma de cada vez?? Como pode ser isto ou como você consegue fazer isto?? Ou na verdade você é Freudiano, porém, como estudioso apenas se utiliza de Jung para estudar e apresentar a sua teoria???
Vamos ser mais pratico: tem varios pontos que os dois discordam, como por exemplo; a libido para Freud é SOMENTE energia sexual, já para Jung ela é também instinto de fome, sede e vontade (ala Schopenhauer) como também, em parte, sexual.
Só citei apenas um ponto, mas você sabe que existe varios, quero saber o seguinte: quais pontos você concorda com Freud e quais pontos você concorda com Jung?
Cite e explique cada conceito.
Forcei demais?? eu sei rsrsr
Quero absorver o máximo de seus conhecimentos antes que seja tarde demais e você morra. kkkkkkkkkkk
Levi, sugiro ue você comece a cobrar por aulas particulares de psicanálise aqui neste blog nota 10...heeeeee
depois eu volto (à la Hub) para (não) comentar nada, e só ficar lendo o que vocês dois escreverem para eu aprender um tiquinho sobre "criador e criatura"...heeee
"Parece haver um pacto (inconsciente) masoquista na pós-modernidade . Todos nós, sujeitos, nos submetemos à posição masoquista subjetiva em nome da proteção contra o desamparo. Submetemo-nos aos outros na busca incessante pela segurança. E isso é o que causa um mal estar na civilização. Em nome de uma suposta proteção servil terminamos por permitir que se legitime a destrutividade sádica e ilimitada da pós-modernidade." - Levi
Será que a causa não seria o nosso medo da afirmação pessoal? Ou de não sermos aceitos?
Seria tal medo um acontecimento espontâneo ou ele é incutido pelos que querem padronizar o ser humano?
Abraços
“Será que a causa não seria o nosso medo da afirmação pessoal? Ou de não sermos aceitos?
Seria tal medo um acontecimento espontâneo ou ele é incutido pelos que querem padronizar o ser humano? “ (Rodrigo)
Exatamente, Rodrigo. Essa ânsia de querer padronizar tudo, tem na sua base, o MEDO. O padrão instituído funciona como abrigo para o sujeito que se sente ameaçado internamente por forças do inconsciente. Instituir padrão , na verdade, é uma defesa involuntária. “Os padrões de comportamento se originam de nossas partes repelidas” ― disse certa vez, Jung.
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