28 janeiro 2011

DARWINISMO TRÁGICO



O Axioma Darwiniano diz: “Só os animais mais preparados ou bem dotados é que sobrevivem, através de sua capacidade de se adaptar ao meio em que vivem” — é a lógica determinista da seleção natural.

Mas a estética desse pressuposto é trágica quando se olha a história das civilizações. Por acaso, a história do homem não é um cemitério das grandes culturas que tiveram fins catastróficos em virtude da sua incapacidade de vencer os desafios?

Hoje, as pessoas mais propensas a absorver as exigências do meio social, são àquelas que têm caráter tipo mercantil; enquanto àquelas que têm dificuldade de se adaptar ao “modus vivendi” da modernidade são as que vão morrendo aos poucos. As que conseguem se adaptar ao imperativo do TER em detrimento do SER sobrevivem com mais facilidade, e são essas que, por sinal, têm pouco interesse em questões filosóficas e religiosas, como a de saber a razão por que estamos indo numa direção e não em outra.

Estudar ou tentar conhecer os sentimentos e afetos humanos mais profundos vai de encontro à “mega-máquina-civilizatória” na qual uma simples “peça” não pode fazer perguntas.

Sobre essa seleção (do Darwinismo pelo avesso), assim disse o discípulo de Freud, Erich Fromm, em seu livro “Ter ou Ser” (pág, 148):

“Os indivíduos com caracteres mercantis não têm apego profundo algum a si mesmos ou a outros, não têm outras preocupações no sentido profundo da palavra, não porque sejam egoístas, mas porque suas relações com outros e consigo mesmos são bastante superficiais. Isso também pode explicar porque eles não se preocupam com os perigos iminentes de catástrofes ambientais ou ecológicas”.

Foi não menos que o cientista Charles Darwin, quem demonstrou as conseqüências trágicas de um intelecto puramente científico e alienado. Escreveu ele em sua autobiografia, que até os trinta anos, gostava intensamente de música, poesia e artes, mas que por muitos anos depois perdeu todo o gosto por essas coisas. Foi o escritor e pensador Britânico E. F. Schumacher (1911 — 1977) quem captou de Darwin, essa afirmação: “Meu espírito parece ter-se tornado uma máquina para captar leis gerais de grandes conjuntos de fatos...”

Tudo indica que Darwin sofreu muito com esse processo de separação entre a razão e o coração, pois a supremacia do pensamento manipulativo cerebral parece correr junto com uma atrofia da vida emocional.

Versando sobre a paixão por Darwin, o filósofo, professor da PUC de São Paulo e ensaísta da Folha de São Paulo, Luiz Felipe Pondé, assim se expressou em seu ensaio - “Sobrevivente”:

“Dizem os especialistas que quando restam poucos exemplares de uma espécie é porque eles são o que de melhor ela produziu ao longo do tempo em que resistiu à violência do demiurgo cego que seleciona seus miseráveis mais adaptados [...]. Portanto, se um dia você encontrar pela frente o último representante de uma espécie, cuidado. Sua evidente extinção é prova de que ele faz parte do que melhor já habitou sobre a terra. Respeito seria indicado diante de tal infeliz.”

Aí está uma verdade Darwiniana: o ser humano que não se adaptar ao modelo atual de sobrevivência, parece mesmo estar condenado a ser uma espécie em extinção.

A esperança de salvação que resta para essa espécie, é que o darwinismo, pelo menos em questão de “alma”, possa estar errado em seu pressuposto básico.


Levi B. Santos

Guarabira, 28 de janeiro de 2011

Imagem: http://opinionshakers.blogspot.com/2009_01_01_archive.html

14 comentários:

Conexão da Graça disse...

Levi, que foto sugestiva! rsrsrs
O modus vivendi tem sido refém do modus operandi, e o ter e o fazer subjugaram o ser em muitas consciências.

Franklin Rosa

Levi B. Santos disse...

Caro Franklin Rosa

Primeiramente quero agradecer a sua presença nessa sala. Em seguida dizer que o seu comentário foi curto e certeiro.

A teoria de Darwin em nossa sociedade está funcionando pelo avesso, uma vez que os que se adaptam ao TER e o FAZER, é que estão sobrevivendo e mandando no jogo. (rsrs).

As provas da mecanização do homem, estão aí para todo mundo ver, se repetindo monotamente, na vida das relações sociais, afetivas, econômicas, psicológicas, políticas e religiosas.

Abraços e volte sempre.


Levi B.Santos

Esdras Gregório disse...

A teoria do evolucionismo não é verdade, mas a da seleção natural usada para provar o evolucionismo é verdade, n e na verdade a teoria da seleção natural nem é de Darwin, mas de um tão de Matheus sei lá o que, que usou ela para explicar processos sociais.

Mas por outro lado e como você diz e dizia Salomão, nem sempre o forte ganha a batalha. Pois neste caso não é só os mais fortes, mas os mais aptos também, na verdade quem sobrevive mesmo são os que se adaptam, pois os fortes s ariscam mais e morrem mais.

ROBSON FILHO disse...

visitando o blog do amigo

Levi B. Santos disse...

GRESDER

Olhando a história de nossa espécie, e, transportando-me para o tempo antigo, fico a pensar onde eu estaria.

A conclusão que cheguei, é que estaria entre os “covardes”, entendendo como “covarde”, aquele que opta na última hora por qualquer remédio que lhe alivie a dor. (rsrsrs)

guiomar barba disse...

Levi,
"Tudo indica que Darwin sofreu muito com esse processo de separação entre a razão e o coração, pois a supremacia do pensamento manipulativo cerebral parece correr junto com uma atrofia da vida emocional."

É possível que ele não tenha se adaptado, mas que tenha morrido aos poucos ao passar esta imagem. Sua agonia só ele conhecia.

Eu creio Levi, que se eu não me adapto ao TER e o FAZER, apesar do jogo, eu tenho mais forças para contribuir com a humanidade e de alguma forma saborear os resultados.

Você tá ficando cada vez mais nas sombras observando os que se debatem na "claridade" com o fim de trazer reflexões contributivas.

Beijo.

Eduardo Medeiros disse...

a trilha do darwinismo social é realmente trágica; na verdade, o darwinismo biológico também é, já que milhões de seres incapazes tiveram que morrer para que a evolução chegasse ao seu fim (finalidade, que não nos ousa algum ateu cético, rss).

o processo biológico foi amoral e está além das nossas éticas construídas ao longo dos anos; mas os processos sociais que excluem os incapazes de TEREM é perversamente desumano e de uma ética utilitária demoníaca: útil é o consumidor. artes? espiritualidade? só entram no esquema evolutivo deste darwinismo social se derem lucro.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Meus parabéns pelo texto!

Hoje raramente alguém se assumiria como um darwinista social, mas muitos agem debaixo desta ideologia realmente maligna. Somos capazes de inconscientemente afastar do nosso convívio quem não é útil e não se adequa aos nossos interesses.

Neste primeiro dia do mês, eu estava na fila do caixa eletrônico quando fiquei a reparar as atitudes de uma moça portadora de necessidades especiais com graves distúrbios psíquicos. Não soube ali identificar qual a sua enfermidade, mas pude perceber nela um profundo amor pela vida que eu há muito perdi e que, com dificuldades, venho tentando recuperar.

Curioso que muitos seres que não se enquadram no sistema são capazes de ser mais felizes e integrados com o ambiente do que homens presos à razão, às preocupações do cotidiano, ao medo do futuro, à reputação, etc. Assim ao olhar para aquela moça que estava no banco junto com sua responsável, parecia que ela já estava vivendo no Reino dos Céus e me ensinando mais sobre a vida!

Sobre o que o Gresder colocou, concordo não ser verdade a teoria do evolucionismo e concordaria que a seleção natural, junto com as mutações genéticas, possa ser talvez um processo da natureza, mas não aplicado à sociedade.

Para que o homem não se aliene no processo de transformação das espécies, ler os relatos da criação em Gênesis torna-se um poderoso remédio. Aliás, sem ainda ter lido este artigo do Levi, andei escrevendo no meu blogue que fala da ancestral ideia sobre a criação:

"Uma inspiradora revelação sobre quem somos"
http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2011/01/uma-inspiradora-revelacao-sobre-quem.html

oliver kleim disse...

caro Levi, os mais adaptados, não são os mais fortes ou dominantes, mas sim aquele que em períodos de transição, conseguem , viver com a escassez e em condições extremas. Os dinossauros embora maiores e mais fortes, sucumbiram à devastação das florestas e falta de sol, ao que as aves encontraram possibilidades de adaptação e posteriormente mamíferos. O homem de "mercado" é um dinossauro do consumo , mas assim que os recursos se exaurirem "os mansos" herdarão a terra (apenas um trocadilho)

Guiomar Barba disse...

Oliven, estou lutando para ser mansa e parece que é bem mais gostoso que ser uma dinossaura rsrs
Gostei do seu comentário.

Abraço.

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

"O homem de 'mercado' é um dinossauro do consumo , mas assim que os recursos se exaurirem 'os mansos' herdarão a terra"


Fico imaginando como poderá ser o futuro da sociedade daqui algum século caso não haja mais recursos para satisfazer o mercado. Terminará o capitalismo?

Bem, a não ser que o futuro daqui a menos de um século seja o tempo escatológico da Bíblia, as necessidades humanas ainda precisarão ser satisfeitas, mas a natureza nos imporá limites. Logo, vislumbro com pessimismo a possibilidade de retorno a uma sociedade estamental como fora na Idade Média, porém vivendo no meio urbano. A riqueza já não será o dinheiro e sim os recursos - o capital verde.

Será que os ricos continuarão herdando a terra?

Levi B. Santos disse...

Edu, Rodrigo, Oliver e Guiomar



Darwin tinha toda razão: “as espécies de animais que se adaptam às mudanças ambientais, têm mais chances de sobreviver”.

Sarney, em sua carreira exitosa, tem sido um exemplo do “darwinismo trágico” aplicado à política brasileira, pois, mantém-se incólume na fisiológica e assustadora "fauna" do Congresso Nacional, desde os idos de 1964. Serviu e ficou em evidência em todos os governos, desde o primeiro ditador até o reinado do imperador Lula.
E essa semana, mais uma vez, foi confirmado presidente do Congresso na nova versão petista de Dilma.

Os políticos que aqui quiserem sobreviver na imensa fauna do PODER, terão que se mirar na imagem desse “astuto sobrevivente” maranhense. (rsrsrs)

oliver kleim disse...

o Sarney é um dinossauro, que sabe virar ave ou mamífero... como todo bom PMDBista.... boa comparação

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Que Deus livre os brasileiros e as brasileiras dos Sarney's da vida! Mas, pensando bem, de todos os males ele NÃO é o maior. Já tivemos coisas muito piores.