16 junho 2012

O Porão Esquecido





Abri no peito, o entravado e velho portão,
Entrei no tempo passado, até então escondido.
Adentrei o subsolo do frio e escuro porão,
Vi os empoeirados fragmentos esquecidos,
Pedaços de brinquedos revoltos pelo chão.
Restos de memória de um tempo bem vivido.


Meus olhos de idoso, pelo tempo, esmaecidos,
Brilharam como antes, quando ainda era criança.
Senti por um momento os olhos umedecidos,
Pressenti no coração, um rasgo de esperança,
Um sentimento gostoso, de rever algo querido,
Renovou a minha alma, de força e de pujança.


Num canto da parede, um cavaquinho de madeira,
Que alçou na minha mente uma bela e velha cantiga.
Noutro canto uma bola murcha coberta de poeira,
Relembrou-me as peladas na ruazinha antiga.
Me vi correndo ofegante, subindo a velha ladeira,
Os pés vermelhos queimando das pisadas em urtiga.


Durante uma noite inteira caminhei pelo passado,
Revirando no porão, meu baú de brincadeiras,
Me vi brincando de novo, a cada artigo encontrado.
E encontrando na bagunça, uma surrada baleeira,
Revivi minhas caçadas pelo mato encantado,
Atirando nas rolinhas, debaixo das pitombeiras.


Ai que saudades que tenho desse porão esquecido,
Desse recanto da alma que ficou em mim gravado,
Desse museu de brinquedos que me deixou entretido,
Desse saudoso lugar, meio triste, e abafado.
E nessa noite de sonhos, eu me sinto agradecido,
Ao voltar a ser menino no porão abandonado.



Versos por: Levi B. Santos
Guarabira, 24 de Abril 2008

7 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Caro Levi,

Verdade é que nunca lembramos do passado tal como ele foi. Nós fantasiamos a realidade e editamos em nossa mente as coisas que mais nos interessam.

Se eu for lembrar do meu passado, certamente não vou querer incluir a separação dos meus pais. Porém, vou preferir recordar dos momentos felizes, dos aniversários em que estavam todos juntos e meus brinquedos ainda não tinham se perdido com algumas mudanças de residência. Vou preferir pensar nas brincadeiras saudáveis com os coleguinhas e não nas humilhações que sofri pela maldade das outras crianças que abusaram de minhas desvantagens emocionais.

Se pudesse, confesso que não voltaria ao meu passado numa máquina do tempo, exceto se fosse para acordar consciente e tentar mudá-lo e ainda assim tenho dúvidas se resolveria alterar alguma linha de minha história. Afinal, apesar dos pesares, houve situações boas que não voltam mais e que continuam a integrar o meu ser em construção, sendo que até as coisas más podem ser transformadas em boas.

Abraços e uma ótima semana pra você.

Marcio Alves disse...

LEVI

Em cima do seu texto “poesia-psicanalitica” quero lhe fazer duas perguntas:

É possível, contrariando a própria psicanálise, sozinhos conseguirmos entrar em nosso próprio “porão esquecido”, sem as “lanternas” do analista?

E, mais; você não acha que Lembrar não é exatamente reviver, mas antes, refazer, reconstruir e repensar com imagens e ideias de hoje, as vivencias do passado?

No mais, me desculpe por não ter aparecido por estes dia, não dando sequencia em nosso tão prazeroso e muito proveitoso debate, pois esta semana inteira, foi semana de provas....mas o pedido e desafio esta lançado ainda, quero que você publique mais textos sobre Jung e Freud, e sobre as diferenças entre ambos.

Gilberto Ângelo Begiato disse...

Levi

Que poesia maravilhosa que nos leva ao passado em um tempo tão maravilhoso que é a infância.

Somos onze irmãos e como era linda nossa família. Meus pais já partiram...

Erámos bem pobres. Banana era mistura kkk, mas se fosse voltar ao passado queria tudo do mesmo jeito, pois meu pai em especial sempre nos ensinou a ser eternas crianças.

Em casa nunca faltou o necessário: alimento, brinacadeiras, carino e amor dos pais e tantas coisas boas.

Já lhe disse que gosto demais de passar por aqui. Hoje você me levou a abrir o baú das belas lembranças que guardo dentro de mim.

Mariani Lima disse...

De vez em quando temos que visitar os porões da nossa mente e encontrar umas coisinhas. Depois dos trinta passamos a visitar mais esses porões. Tenho encontrado umas coisas lá tb. Por último me lembrei da caixa de botões da minha vó e a sua máquina de pedal rsrs....
Lindo demais! Poderia fazer uma postagem em nosso mar e poesia, meu e de Guiomar com um desses seus poemas poderosos.
Um abração!!

Levi B. Santos disse...

Rodrigo, Gil e Mariani


Que bom, que os versos postados tenham evocados fatos bem vividos da infância de vocês.

Abraços a todos

Levi B. Santos disse...

"É possível, contrariando a própria psicanálise, sozinhos conseguirmos entrar em nosso próprio “porão esquecido”, sem as “lanternas” . do analista?" (Márcio)

A Auto-análise, Márcio, parece ser mesmo uma contradição do que se propõe a psicanálise, uma vez que ela pode está contaminada com os desejos conscientes.

O analisando oferece ao analista o seu vasto mar de contradições em seu discurso. É justamente nos atos falhos,lapsos e falas repetitivas que aqui ou acolá surgem, que o analista (o outro)irá pescar, de modo "isento" os peixes escondidos na profundidade abismal desse vasto oceano que é a psique.

Marcio Alves disse...

LEVI

Sua fala: "A Auto-análise, Márcio, parece ser mesmo uma contradição do que se propõe a psicanálise, uma vez que ela pode está contaminada com os desejos conscientes" (LEVI)

Não será por isto também que os criticos de Freud e da psicanalise questionam sua veracidade, pois como pode Freud sozinho e de maneira "neutra" acessar o seu inconsciente???
(Alem é claro dele ser FREUD. rsrsrs)

Outra coisa, é impossivel, mesmo para um pscinalista experiente, anular a sua subjetividade humana no momento da analise, como pode então ser considerado legitimo a analise??

E mais uma, se você puder me responder esta de "labuja" eu agradeço rsrsrs

Qual a diferença da psicanalise Freudiana para a analise Junguiana na psicoterapia??
E qual você considera mais eficiente??

Depois volto para "pescar" neste mar de sabedoria, verdadeiros peixes Freudianos e Junguianos. rsrsrs
(Te dei um "boi" porque ainda não lhe perguntei de Lacan. rsrsr)