Cursos
de preparação para o casamento, dos
quais pululam esperadas maravilhas, são destaques no mundo inteiro,
principalmente nos EUA, onde terapeutas, padres, pastores e pesquisadores se
reúnem com freqüência cada vez maior no sentido de manter os requisitos de tradição, família e propriedade,
que constituem os pilares básicos dessa instituição secular.
O
psicanalista Jurandir Freire, em seu livro, Sem Fraude Nem Favor, desmonta o ideal platônico que permeia o casamento, ao afirmar: “Renunciem a ser o Príncipe e a Cinderela,
destinados a viverem felizes para sempre, e encarem as trapalhadas que vierem”.
O
psicanalista, Contardo Calligaris, num artigo publicado na Folha de São Paulo
em junho de 2001, discorre sobre o ideal do amor romântico exibido no cinema.
Hollywood, como vocês todos sabem não pára de explorar o lado romântico idealista.
Claro que a mega usina cinematográfica americana tem aí, o seu maior filão ― ser
o receptor de nossas identificações narcísicas.
Quem
não se lembra do filme Casablanca,
em que o público inteiro se identificou com Bogart, que como “bom
macho” renunciou a viver seu grande amor, para entrar na resistência
clandestina? Quem não se lembra de Titanic,
onde um DiCaprio salva sua bela princesa
ao custo da própria vida ― a eterna namorada Kate Winslet ―, essa, idealista
de um amor que nunca teve tempo de vingar? Quem não se lembra de Love Story, mediado por um casal
intensamente apaixonado, onde embutido na trama cinematográfica estava
explícita uma morte anunciada?
Calligari,
sobre os grandes filmes românticos que encantam o público, deixa um veredicto
no ar: “O que, finalmente, se extrai da
essência desses filmes são o sacrifício, o luto e a idéia de sobreviver como
lembrança indelével na memória de quem fica; em suma o que é idealizado nunca é
o convívio, mas a perda, a saudade, o luto ou, no máximo, a procura”.
Interessante
é que quando a história termina bem, o filme acaba, como na história tão
repisada de Cinderela. O que a
história de Cinderela inocula nas
mentes infantis? Ela atiça ou reaviva na mente da menininha o desejo de
completude ou a crença de que existe um homem perfeito (príncipe) que um dia
vai fazê-la feliz para sempre.
Fausto
Motta, em seu livro, Contos
e Lendas Interpretados pela Psicanálise
(Editora Vozes ― página 10), sobre a história de Branca de Neve, faz uma constatação muita significativa: “A psicanálise nos permite entender que a
neurose de Branca de Neve era tão grave, que a garota foi induzida a fugir de
seu lar, por ódio à sua rival (a mãe), terminando por coabitar simultaneamente
com sete homens, que, por fim, comparados ao seu ideal amoroso (o pai), eram tão
inferiores que se assemelhavam a anões...”
Mas
você, caro(a) leitor(a), já reparou que a felicidade
tão almejada da história de Cinderela
e seu príncipe encantado, representada pelo convívio cotidiano entre os consortes na maioria
dos filmes românticos, nunca acontece na
tela? Talvez não seja tão rentável, o filme mostrar o óbvio, ou seja, a insatisfação e a falta que estão sempre escritos nos corações dos príncipes e das
princesas da modernidade, até que a morte os separe.
Por
Levi B. Santos
6 comentários:
Penso que o cinema leva muitos em nossa sociedade à idealização do amor nos relacionamentos. Porém, no filme da vida real, o amor acaba sendo muito mais verdadeiro quando as pessoas realmente decidem amar e vencem o sentimento. Conheço uma mulher que, apesar de inúmeros erros cometidos pelo marido, resolveu amá-lo até o fim de sua vida, mesmo não tendo sido feliz ao seu lado. Ora, na perspectiva da cruz, isso não seria uma inequívoca prova de amor?! Mais do que nunca o mais belo romance de todos os tempos é a história amorosa entre Cristo e a Igreja. Abraços.
Em tempo! Tenho dito repetidas vezes que a sociedade ocidental costuma confundir o amor com sentimento. Na verdade, a grande maioria desconhece o que seja o amor.
A idealização está em tudo. Disso tudo vem o tal pessimismo discutido na confraria, as frustrações. Carros do ano envelhecem, cigarros dão mau hálito, cervejas não trazem as loiras peidudas e os seres humanos tem defeito de fábrica, oh como a vida é cruel!! rsrs..
Um abração
Edu, as vezes tento me lembrar se gastei tempo idealizando o casamento, mas penso que não, de uma vez que eu via uma esposa como uma lavadeira, cozinheira, arrumadeira, faxineira, babá, etc.
Sei que tinha muito medo de casar, até que um dia como um filme, vi toda a minha vida começando da infância... Fazia exatamente o que a minha mãe fazia: lavava, passava, cozinhava, cuidava da casa, e era babá, salvo tempos em que as vacas gordas permitiam ter empregada. E a compensação? É imoral, é ilegal ou engorda!!!
Depois do filme, fui curada no profundo da minha alma, hoje faço tudo isto, mas tenho um maridão para compensar com muito amor a minha lida, e quando presente, faz comigo. heheheheheheh
Rodrigo, Mari e Guiomar
O pessimismo, a decepção são efeitos dos sonhos com os quais embelezamos nosso objeto de amor.
Os psicanalistas dizem que quem nos ama vê em nós alguma qualidade que, de fato, não temos. Concordam?
Por outro lado a psicanálise também nos dá um bom conselho:
“esqueça o infausto projeto de mudar o outro, mas ame com o projeto de ser transformado pelo que o outro espera de você” . (rsrs)
Concordo, Levi!
O certo é que, se não fosse a descoberta do espelho, jamais veríamos o nosso rosto.
A visão do outro a nosso respeito é algo que precisamos sempre considerar. Mesmo que a pessoa amada nos veja com distorsões de sua visão...
Sobre mudar o outro, realmente jamais conseguiremos. Vale mais tentarmos mudar a nós mesmos e praticarmos o amor de Cristo, deixando que Deus faça a obra em cada coração. E, quando agimos de maneira certa, penso que estamos transmitindo um Evangelho que supera as repetidas palavras. E aí só nos resta mesmo encararmos o projeto de sermos transformados.
Que Deus nos capacite!
Abraços e tenha uma excelente semana.
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