Ministro
da Justiça – Eduardo Cardozo
Anteontem
(dia 14), o ministro da justiça, Eduardo Cardozo, em uma palestra
a empresários de São Paulo, compadeceu-se dos presos. Diante do injusto e
falido sistema penitenciário brasileiro, o ministro de nossa justiça, ao que
parece, movido de íntima compaixão, extravasou toda sua indignação com relação
à situação dos presos que cumprem pena em depósitos infectos, que em nada lembram
as prisões dos EUA.
Visivelmente emocionado, assim, se dirigiu a
nação: “Do
fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa,
eu preferia morrer”.
A
declaração bombástica do ministro da justiça do partido que há mais de oito
anos toma conta do sistema carcerário do país e não conseguiu melhorá-lo,
fez-me lembrar de uma emblemática declaração efetuada por um dos nossos presidentes no
tempo da ditadura militar. Acho que as pessoas do meu tempo devem ter na memória a famosa reação insensata de João Batista Figueiredo (aquele que não suportava o cheiro do
povo) quando, também em cadeia televisiva, no alto de sua "sapiência", respondeu a um menino que o interpelara sobre o que ele faria se tivesse que
sobreviver com o salário mínimo da época. “Eu daria um tiro no ouvido!” ― foi dessa forma grosseira que se expressou, demonstrando completa inaptidão para o alto cargo em que estava investido.
No
primeiro caso ― o do ministro da Justiça em sua fala ―, transparece a exteriorização
de sua dor ante a situação vexaminosa de seus companheiros (os mensaleiros), os quais, segundo a cúpula do PT, foram condenados injustamente por um tribunal de exceção, ao
regime fechado de prisão. Contudo, o ministro não se ateve ao mérito do
processo condenatório em fase terminal no STF, mas sim ao sistema carcerário nacional.
Quanto
à situação de penúria dos nossos presídios, não sei a razão pela qual o
ministro da justiça, que sabe de cor e salteado os artigos e decretos promulgados
pelo Congresso, não se referiu a Lei Complementar
n° 79, de 7 de janeiro de 1994, que instituiu um Fundo com a finalidade de
proporcionar recursos e meios para financiar e apoiar as atividades e programas
de modernização e aprimoramento do Sistema Penitenciário Brasileiro.
No
caso do maior mandatário da nação (General João Batista Figueiredo), não me
consta que o menino atendeu ao seu conselho de acabar com a vida a
ter que sobreviver com um salário mínimo. No que tange ao salário mínimo, podemos até considerar que, hoje, houve uma substanciosa recuperação do seu poder de compra!
O
ministro da Justiça, em uma situação análoga a do presidente acima citado, falou
em “acabar
com a vida”, a ter que se ressocializar em um sistema prisional, que se está apodrecido, é por pura inércia dos que legislam e governam.
No
momento doloroso em que pessoas do alto escalão do governo irão passar pelo constrangimento de cumprir
penas em ambientes não adequados à sua condição social, ao invés de ficarmos de
braços cruzados apelando para o pior (a morte), bem que poderíamos, senhor Ministro,
melhorar sobremodo o sistema prisional brasileiro, pondo em prática o que já
está estabelecido em lei há pelo menos 18 anos.
Há
fundo, há verba amparada em leis para oferecer condições dignas para
recuperação do preso, seja ele pobre ou de colarinho branco. O que parece não haver é vontade política. E quando isso
ocorre, medidas extremas como aconselhar tirar
a vida é de uma sordidez extrema.
Por Levi B.
Santos
2 comentários:
Levi, você foi ao âmago da questão. Nosso Ministro está agora compungido com a vida dos presos brasileiros diante da iminente ida para lá dos seus companheiros, vítimas da "ditadura da mídia".
Agora, quanto ao Figueiredo, pelo menos ele era tricolor...
Edu
Os condenados falam que não tiveram o exercício do contraditório, porque o poder da mídia (escrita e falada) levou de roldão os Ministros do Supremo.
Já que você falou em “Ditadura da Mídia”, os ministros Tófolli e Lewandovski, ao se aterem unicamente aos autos do processo oferecido pelo Ministério Público, mais tarde, poderão ser considerados os heróis que contrariaram um julgamento efetuado previamente pelos meios de comunicação? Ou não?
Mas o que dizer da presidente Dilma, que se valeu do poder investigativo da mídia para demitir de um só tacada, sete ministros (rsrs)?
Será que nós, blogueiros, inconscientemente, não estamos a serviço da mídia cibernética?
Cada um que come desse pão e bebe desse cálice, que responda essa pergunta cabeluda. (rsrsrs)
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